segunda-feira, 30 de novembro de 2009

A EDUCAÇÃO/INCLUSÃO DO DEFICIENTE VISUAL



Na atualidade, muito se discute em relação à diversidade da sociedade como um todo. E a escola é o espaço primeiro e fundamental de manifestação dessa diversidade. Decorrente dessa premissa, surge à necessidade de defender a escolarização como princípio inclusivo, reconhecendo a possibilidade e o direito de todos que não são tocados por ela.
Para construir uma sociedade mais inclusiva, é preciso considerar que, quanto mais rica a diversidade, mais rica se torna a figura formada pelo conjunto das partes que a compõem, como vários pedaços onde todos são importantes.
Contudo, vivenciamos que a realidade mostra-nos que não é fácil conseguir um contexto efetivo de inclusão. Pelo contrário, é mais fácil vivenciarmos a exclusão.
Inclusão não é oferecer às pessoas com necessidades especiais somente a oportunidade de estarem juntos, fisicamente, dos que não são portadores delas. É preciso garantir-lhes um suporte intersetorial, uma mudança profunda na concepção e na compreensão das diferenças pela sociedade.
Assim, a luta pela inclusão deve ser pautada e associada à melhoria tanto da escola como da sociedade.
A educação, pode-se dizer, que é um processo que visa orientar o educando para um estado de maturidade que o capacite a encontrar conscientemente com a realidade, para nela, atuar de maneira eficiente e responsável, a fim de serem atendidas necessidades e aspirações pessoas e coletivas. Uma vez que:

A educação, direito de todos e dever do estado e da família, será promovida e incentivada, com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. (CONSTITUIÇÃO FEDERAL, 19, CAPÍTULO III, ART. 205).
Se a constituição assegura que a educação é um direito de todos, a pessoa com deficiência visual ou baixa visão, está inclusa nesta premissa. No entanto, o artigo 208, inciso III, enfatiza que “[...] o atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, deve ser oferecido, preferencialmente, na rede regular de ensino”. (CONSTITUIÇÃO FEDERAL, ART. 208, INCISO III). Todas as ações educativas deverão apontar para a inclusão de pessoa com deficiência visual ou baixa visão no ensino regular, desde que, sejam bem planejadas e estruturadas.
A política de educação inclusiva, no Brasil, está embasada na Declaração de Salamanca, elaborada pela Conferência Mundial de Educação Especial, que ocorreu em 1994. A Declaração afirma que as escolas regulares, com orientação inclusiva, são os meios mais eficazes de combater atitudes discriminatórias.
O conceito de inclusão aponta para aprofundarmos os questionamentos sobre a diversidade, compreendendo as diferenças, as especificidades do ser humano, individual ou coletivo e, principalmente, as situações da realidade social, conforme Mitter (2003).
Então, a inclusão daqueles que apresentam características diversas, vem impondo aos educadores novas formas de repensar as concepções da escola padronizada e igual, suas práticas de ensino, suas formas de avaliação e seus tempos de progressão.
Trata-se então, de normalizar o contexto em que as pessoas se desenvolvem, ou seja, oferecer às pessoas com deficiência visual ou baixa visão, modos e condições de vida diária os mais parecidos possíveis às formas e condições de vida do resto da sociedade. Isso implica adaptações dos meios e condições de vida às necessidades dos indivíduos com deficiências, condutas típicas e de altas habilidades.
A inclusão consiste justamente em inserir aqueles que possuem necessidades educativas especiais e o reconhecimento das necessidades de ações para se conseguir de fato uma “educação para todos”, incluindo os que são impedidos, por algum motivo, de participar do processo educacional. O aluno com deficiência visual ou baixa visão, teria a vantagem de estar convivendo num espaço social diverso, rico e estimulante, o que seria útil para uma integração social, independente de suas condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais, lingüísticas. O princípio de que todos aprendem juntos é a premissa de que a escola é capaz de reconhecer e responder às necessidades diversificadas dos alunos, acomodando diferentes estilos e ritmos de aprendizagem e assegurando a educação de qualidade.
Ao inserir uma pessoa com deficiência visual no ensino regular, a escola deverá estar atenta para oferecer apoio à família; estar ciente do diagnóstico da deficiência, bem como verificar o interesse e aceitação da família pela e da deficiência. Alguns indicadores pedagógicos, para pessoas com limitações no processo de desenvolvimento, seriam necessários: a adequação aos recursos materiais; orientação pedagógica especial; adaptação de trabalhos diversificados dentro do currículo escolar; adequação de programas especiais que propiciem condições educacionais e terapêuticas ao aluno com necessidades educativas especiais (da comunidade para dentro da escola) e que favoreçam a produção e construção coletiva do conhecimento; equipe de trabalho capacitada com atualizações e reuniões de novos métodos e estratégias para trabalhar com a deficiência sob e dentro do enfoque inclusivo; aceitação das diferenças individuais, etc.
Entre os vários aspectos a serem discutidos e implementados para a concretização da educação inclusiva, o currículo escolar se configura como aquele que articula grande número de indicações para a ação pedagógica, o que justifica a importância atribuída à sua organização e ao conhecimento dos conteúdos que o compõe.
Para obtenção do sucesso na aprendizagem, devem ser contemplado e recomendado à adoção de currículos abertos, diversificados e flexíveis, seguindo como subsídios os Parâmetros Curriculares Nacionais, inclusive o de Adaptações Curriculares – Estratégias para a educação de alunos com necessidades educacionais especiais; que norteiam a organização e o funcionamento da escola para atender à demanda diversificada de alunos. O currículo deve ser o mesmo para todos os alunos, porém, o mesmo adequado às necessidades, capacidades e diferenças individuais. Por isso, compete ao educador buscar capacitar-se profissionalmente para trabalhar com a diversidade na sala de aula.
Ao iniciar o processo de educação da pessoa com deficiência visual (total ou baixa visão), desde os programas de estimulação precoce, faz-se necessário educá-la de forma a atender suas necessidades. A escola ou instituição, deve providenciar o material didático necessário como o soroban, além do ensino do código Braile e das noções de orientação e mobilidade, promotoras das atividades de vida diária autônoma e social. Deve-se também, levá-la a conhecer e aprender ferramentas de comunicação, que por sintetizadores de voz, possibilitam ao DVT escrever e ler via computadores.
Inventado por Louis Braille, na França, em 1825, o Sistema Braile consiste num método especial de alfabetização, de caráter universal que desenvolve a leitura e a escrita para pessoas com deficiência visual.
O Sistema Braile é formado por seis pontos em relevo, dispostos em duas colunas, uma ao lado esquerdo e a outra, no lado direito. Sendo os pontos 1, 2 e 3, na coluna esquerda contado de cima para baixo e 4, 5 e 6, na coluna direita, também contado de cima para baixo, para a posição de leitura. Os seis pontos, formam a chamada cela Braile. A diferente disposição desses seis pontos permite a formação de 63 combinações ou símbolos. A utilização do soroban, como método ideal de cálculo para as pessoas com deficiência visual, permite escrever números com certa rapidez. O permite a realização de cálculos mentais e qualquer tipo de operação matemática. O instrumento é uma espécie de ábaco de forma retangular, com hastes verticais compostos de elementos móveis, que permitem a realização de contas de valor 1 e de valor 5, separados por uma haste horizontal. Permite ao deficiente visual, desenvolver habilidades importantes, como a atenção, a discriminação auditiva e visual, a memória, a concentração, o controle motor, o equilíbrio entre o pensamento e a ação. Estes requisitos permitem a aprendizagem eficaz do método.
Cabe-nos citar que Rocha (2004, p. 33), enfatiza que “o currículo do aluno deficiente visual será o mesmo do aluno vidente, com adaptações necessárias para que o aluno com perda visual possa ter a mesma compreensão dos conteúdos”. Para tal, o professor deverá posicionar o aluno de forma a favorecer a escuta do professor; propiciar-lhe conhecimento do ambiente e autonomia em sala e na escola; trabalhar com materiais de suporte concreto para a aquisição de conceitos matemáticos e acadêmicos, além de oferecer ao aluno com visão subnormal, uma ampla variedade de material didático.

Para isso, é a Escola Regular que tem que buscar meios de adaptar-se a estes alunos: na infra-estrutura física e material, nas adaptações curriculares, na preparação dos professores e funcionários e toda a escola, familiares, etc.
A integração não está restrita somente à classe regular. Convivendo com os outros, pessoas com deficiência visual, podem estabelecer trocas importantes para o seu desenvolvimento. Vivenciar a educação de forma integrada permite que a sociedade perceba estes alunos de uma outra maneira e de forma positiva. A inclusão é possível, por acreditar que todo indivíduo é capaz, tendo um potencial a ser desenvolvido, desde que respeitada a especificidade de cada um, dando condições necessárias e estabelecido um vínculo afetivo entre os envolvidos.
O que podemos perceber, é que estamos diante de uma nova perspectiva, uma nova maneira de ver socialmente as pessoas com necessidades especiais com a Educação Inclusiva, através dos princípios políticos e práticos das necessidades especiais, expressos na Declaração de Salamanca (1994).
À sociedade cabe a implementação de ajustes e providências necessárias para que possibilitem o acesso e a convivência no espaço comum, não segregado, do deficiente visual. Também, cabe-lhe reorganizar-se de forma a garantir o acesso de todos os cidadãos, inclusive os que possuem necessidades especiais.
A busca pela heterogeneidade entre os seres humanos e a construção de uma sociedade democrática, igualitária e aberta, poderá mostrar-nos que as diferenças enriquecem o cotidiano e fazem-nos crescer como pessoas e cidadãos... Este é o grande desafio!


Aline Karol Laudino de Lima
Maria da Costa Silva

Um comentário:

  1. Olá Colega !

    Esse tema é muito interessante , e quanto mais pesquiso e leio sobre ele mas aprendo o quanto precisamos aprender sobre os deficientes visuais e como devem serem incluídos nas nossas escolas de forma democracia , sem sentirmos “ pena” mas oferecermos respeito e condições necessárias para desenvolver seus demais sentidos de forma humana e igualitária , afinal alguns aparentemente não desenvolvem nenhuma habilidade cognitiva , mas apresentam grande exemplo de superação e auto-estima , importantíssimo para nós e os demais que se dizem “normais” pois de acordo
    Bertolt Brecht.
    “Há homens que lutam por um dia e são bons.
    Há outros que lutam por um ano e são melhores.
    Há outros, ainda, que lutam por muitos anos e são muito bons.
    Há, porém, os que lutam por toda a vida,
    Estes são os imprescindíveis.”

    Abraços

    Alex Gonçalves de Souza

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